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Entenda sobre compartilhamento de riscos

por brendamatoss
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Você sabe qual a relação entre os caçadores-coletores, as grandes navegações e a proposta da Pier? Entenda como resgatamos o compartilhamento de riscos.

 

1. Dos caçadores-coletores ao seguro

Podemos dividir a história da nossa relação com o risco em 3 etapas: preocupação com o futuro, o compartilhamento do risco e, posteriormente, a sua mercantilização.

No ano 70.000 AC nosso planeta era habitado pelos primeiros homo-sapiens (Yuval Noah Harari, Uma breve história da humanidade — Sapiens, 2014). Eram nômades e extrativistas que tiravam da natureza a sua subsistência. Chamados decaçadores coletores, os primeiros homo-sapiens não tinham preocupação ou necessidade de planejamento do futuro devido à abundância de alimentos.

Vivenciamos a Revolução Agrícola e formação das primeiras cidades em 10.000 AC (Yuval Noah Harari, Uma breve história da humanidade — Sapiens, 2014)Junto com a agricultura, surgiram as preocupações com o futuro: secas, enchentes e pragas. O homem precisou planejar-se para adversidades naturais. É curioso que o cultivo da terra gerasse a preocupação com a falta de alimentos. Mas lembre-se, as técnicas eram rudimentares e tínhamos pouco conhecimento de meteorologia ou agronomia.

Devido às incertezas climáticas, os agricultores começaram a associar-se e reservar parte da sua produção para mitigar casos prejuízos de alguém do grupoNascia assim o primeiro conceito de proteção de riscos: o compartilhamento. Um grupo de pessoas cooperavam para se proteger de adversidades. Isso permitiu que nossa espécie consolidasse a formação das cidades e as bases da nossa sociedade.

Em 2.500 AC (Enciclopédia Britannica Inc., 2017), os babilônios foram a primeira civilização a “fazer dinheiro com o risco”. Navegantes, que contraíam empréstimos para financiar suas viagens, pagavam uma taxa de juros adicional para cancelar a dívida em caso de problemas (tempestades, roubos, danos na embarcação etc.).

Na prática, através de um pagamento prévio,os navegantes transferiam os riscos da viagem para terceiros — originando a mercantilização do risco. Essa operação ultrapassou gerações (sendo largamente utilizada durante as grandes navegações do século XV) e o seu mecanismo foi a base da criação da primeira seguradora, The Insurance Office, em 1667 em Londres (The Evolution of Insurance, 2010).

Com complexidades adicionais, até hoje, seguradoras são empresas especializadas em assumir os riscos de perdas, cobrando um valor prévio para isso. Ou seja, o modelo de negócio tem a mesma essência da operação dos babilônios criada há cerca de 4.000 anos atrás.

O seguro permitiu grandes avanços à sociedade, fomentando tomadores de riscos e empreendedores ao longo do tempo. Porém o modelo de negócios baseado no “fazer dinheiro com o risco” se distorceu ao longo desses 4.000 anos. Ele afastou-se dos interesses comunitários de proteção e aproximou-se dos interesses privados das seguradoras. Diante disso nos perguntamos:

Transferir seus riscos é a melhor maneira de proteger o valor de um bem?

2. Tecnologia, confiança e o resgate do compartilhamento de riscos

Foi exatamente fazendo essa pergunta que chegamos ao modelo de compartilhamento de riscos. Mas peraí! Esse não foi aquele utilizado pelos nossos primeiros agricultores por volta de 10.000 AC?

Bingo!

Mas se a humanidade acabou adotando o modelo de transferência do risco mediante um pagamento prévio, abandonando o compartilhamento, por que o resgatar?

Vamos pensar em como seria o sistema de compartilhamento de riscos inventado pelos nossos amigos agricultores por volta de 10.000 AC se fossemos proteger um celular, ao invés de nos protegermos da escassez de alimentos:

  1. Pago uma mensalidade para o administrador do grupo de compartilhamento para proteger meu celular.
  2. Outras pessoas também pagam uma mensalidade ao administrador para terem o celular protegido.
  3. Em caso de roubo, o administrador destina parte do saldo das contribuições mensais para o membro com celular roubado comprar um semelhante.

Automaticamente nos vem duas pergunta à cabeça:

  1. Como garantir que sempre haverá dinheiro para pagar as pessoas que tiverem celulares roubados?
  2. Como garantir que o administrador não “desaparecerá” com as contribuições dos membros?

Devido a essas incertezas, o compartilhamento de riscos acabou sendo abandonado ou reduzido a pequenas comunidades e pequenos riscos, onde essas incerteza são minimizadas. Voltemos à Babilônia. Teríamos que achar uma centena de navegantes dispostos a proteger suas embarcações num mesmo momento, acharmos um administrador responsável, e confiarmos mutuamente uns nos outros, sem nos conhecermos previamente.

Complicado, não?

quanto maiores os valores dos bens, mais difícil era o compartilhamento: mais profissional precisava ser o administrador e mais pessoas precisavam participar para que as mensalidades fizessem sentido e pudessem ser pagas. Compartilhar o risco entre duas pessoas não faz muito sentido. Melhor comprar um barco ou um celular em duas vezes em caso de perdas.

Exatamente por isso surgiram as seguradoras em 1667 na Inglaterra! Elas garantiam que sempre haveria dinheiro para reembolsar celulares roubados, independentemente das pessoas compartilhando o mesmo risco. Era mais fácil transferir o risco a um terceiro do que buscar uma rede de confiança formada por pessoas interessadas em compartilhá-lo.

Mas estamos no século XXI, um mundo muito diferente daquele em que os Babilônios viveram e que criou as bases da indústria do seguro. Diferente do século XVII, encontrar pessoas interessadas em compartilhar riscos e confiar mutuamente uns nos outros sem conhecimento prévio, é rápido e seguro com utilização de tecnologias como as plataformas de compartilhamento de risco baseadas no conceito de DAO (Decentralized Autonomous Organization) Insurance e redes de confiança.

Elas resolvem distorções que apareceram ao longo dos anos com a mercantilização do risco e crescimento das seguradoras. Estabelecem novos pilares para nossa relação com o risco beneficiando-se da natureza social de nossa espécie com simplicidade, transparência e tecnologia.

 

3. O que são plataformas de compartilhamento de riscos

São uma maneira simples para pessoas compartilharem o risco de perda financeira com uma comunidade formada a partir de uma rede de confiança. Oferecem um ambiente seguro onde avaliam a entrada e manutenção dos membros. Proporcionam transparência no fluxo mensalidades e reembolsos da comunidade. Administram os recursos para que todos recebam o valor dos bens protegidos em caso de prejuízos. Cobram uma taxa de administração de seus membros.

 

Como funciona?

Qualquer pessoa desejando se proteger, passa por uma avaliação e se aprovada, realiza contribuições em função do valor do bem que deseja proteger. A plataforma compartilha o risco automaticamente entre todos os seus membros proporcionalmente ao valor dos bens protegidos.

A partir de recursos oriundos de cada um de seus membros, as plataformas estabelecem uma garantia descentralizada. Elas não constituem formalmente uma reserva. Elas a compõem direcionando parte das mensalidades recebidas para uma conta comum. O dinheiro é da rede e compartilhado por todos os membros! É reservado um valor que permita o reembolso de todos, sem crescimento desproporcional da reserva em relação à expectativa histórica de perdas.

Em caso de perdas ou sobras excessivas das reservas em virtude de desvios em relação ao previsto, as plataformas compensam as mensalidades automaticamente.

Fizemos um resumo comparando os fundamentos de uma plataforma de compartilhamento de risco baseada no conceito de DAO Insurance e uma seguradora:

Tratar o dinheiro dos membros como sendo deles, se beneficiar da natureza social de nossa espécie, ser transparente, sem burocracia e eficiente em termos de capital. Essa é a proposta de uma plataforma de compartilhamento, resgatada a partir da essência da nossa relação com o risco.

 

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